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sexta-feira, abril 22

E eu esqueci o quanto ela me incomodava. Quanto me incomodava seu silêncio. O jeito que ela me ignorava . E como eu me fazia sentir tão sozinho junto à ela. Toda essa não-demonstração de afeto. Todo esse vazio cotidiano de estar do seu lado e não sentir como seu parceiro.

Eu esqueci o quanto ela me irritava. Brigar por coisas pequenas. Mas o que mais me irritava, era discutir pelas coisas não-pequenas. Pelas coisas que eu achava importante. Porque isso demonstrava a falta de apoio ou a incongruência de ideias.

Nosso cotidiano atravessava como fogo-cruzado. E ela dizia que era o jeito dela. E eu ponderando mil porquês. E tentando tirar algo, qualquer significado, pro que tava acontecendo.

Sem sucesso.

Uma luta angustiante. Contra o vazio.

Mas a saudade do toque. Da voz. Das coisas que só ela sabe fazer. Do jeito singular que ela faz as coisas que todos fazem. Que todas fazem. Que todos fazemos.

A saudade.

Esqueço tudo o que me fez querer afasta-la.
Esqueço que não deveria atraí-la...

domingo, janeiro 5

O Último Confronto dos Caçadores

  Alguns dizem que uma boa história tem uma moral implícita. Eu digo "para o inferno os iluministas!". Mas, para salvar minha sanidade, eu enxergo minha história como uma metáfora do fluxo do mundo. Todos sentem esse impulso, arrisco dizer, instinto de luta. Mas ninguém enxerga o inimigo, e ninguém sabe exatamente quem atacar. Alguns de nós tem mais poder que outros: temos armas para o confronto. Outra vantagem na disputa é saber identificar os inimigos mais ameaçadores e neutraliza-los o mais rápido - e permanentemente- possível. As ruas são uma arena onde gladiadores se enfrentam todo dia. Por um tesouro oculto. Um tesouro indefectível, extraordinário, inestimável e - acima de tudo- irreconhecível. 
  Chega a ser engraçado escutar os rugidos, grunhidos de quem defende um território que nem ao menos sabe a história. O ser não tem pista alguma do porquê  está lá. Mas como está, quer ficar. Ficar é seguro, talvez? Ou eles têm esperança de um dia botar as mãos no impensável tesouro magnífico?

 Divagações à parte fiquem com essa história que eu gosto de contar sob o titulo de "Meu último confronto" ou "Porque eu parei de lutar". Alguns podem identificar como uma história de ação, mas acho que seria mais uma anedota.
 Há algum tempo recebi um e-mail sobre uma proposta de trabalho. Como vocês sabem, era um famoso Recuperador. Sabem, como um detetive? As pessoas querem achar algo. Algo que alguém ou elas mesmas perderam. Há pouco ou muito tempo, não importa. Elas me pedem pra achar algo perdido, eu faço!
  Chegando no bar que gosto de marcar as reuniões, um sujeito de terno caro e óculos pomposos me espera sentado, fumando cigarros de luxo e bebendo uma garrafa de whiskey. Doze anos. Importado.
  Muito inusual, a maioria dos meus clientes não beberia algo mais caro que os cigarros, não vestem gravatas de seda a menos que morra alguém da família. Os óculos normalmente estão embaçados por causa das lagrimas recentes. O olhar de desespero é muito comum e a bebida só serve como anestésico à dor.
  Certo, vez ou outra, um ricaço ou patricinha perde algo de valor e me chama para correr atrás do prejuízo. Nesses casos, têm medo de mim. Hehe! Pois é. Então costumam negociar apenas por intermédio de eletrônicos ou terceiros- empregados da família.
  Por isso, vacilei quando vi a figura. Um sentimento de perigo fluiu pelo meu corpo. É. Eu tenho isso sim. Superstição ou não, me manteve vivo até hoje.

segunda-feira, outubro 14

Memórias (2)

Com ela, era diferente.

Pra começar, não eramos um. Ser um parece bonito. E talvez até tenha sua beleza. Mas, pra mim, mais belo é ser dois. É ter uma companheira. Alguém que te dá suporte, alguém que te assiste. Alguém pra suportar, pra assistir. Pra compartilhar. Cada um com seus próprios sonhos, ambições; dramas e tragédias.

Lindo não é alguém que cria raízes ao teu lado; que podendo voar, aninha-se com você. O belo é quando você tem alguém que apoia seus voos.

E, com ela, cada ato era novo. Cada gesto, era novo. Cada dia novo. Nada se repetia. E eu nunca me cansava.

Era eu, era ela. Era eu e ela. E nós ficamos até que a chama dela apagou.

quarta-feira, abril 3

Memórias (1)


A primeira vez que encontrei Jessica era madrugada de Junho e, como sempre, fazia muito frio. Voltava pra casa quando encontrei a menina ruiva agasalhada atravessando a rua apressada. Por um momento, nossos olhares se encararam. Sem dizer nada, abri a porta do meu apartamento e subi as escadas, pensando que acabara de encontrar a menina mais linda que já havia visto.

A segunda vez, eu estava num bar com uns amigos quando percebi que já havia visto a garota da mesa ao lado. E quando ela olhou pra mim, acho que me reconheceu também. Nós ficamos trocando alguns olhares durante a noite. No fim de muitas doses de tequila, ela me disse um tchau quando estava pagando a conta.

A terceira vez que vi a garota foi após alguns meses, quando fui a um festival com alguns amigos. Vi Jessica com alguns amigos também. Mas, tímidos, nem um nem outro resolveu puxar conversa. Bom, não sei se ao menos ela cogitava isso, mas eu fiquei pensando um bom tempo em como aborda-lá. Até que uma mão delicada tocou meu ombro e o sorriso de Jessica me convidava pra ir pra outro lugar. Bebemos tequila na beira do rio. Conversarmos, demos risadas e dançamos. Depois, eu caí de sono. Quando acordei encontrei só uma foto dela embaixo da garrafa vazia de vinho.

Na quarta vez que vi Jéssica, muitos anos já haviam passado. Eu estava com uma namorada, em um parque da cidade. Ela me parou e conversou conosco. Depois convidou para um jantar em sua casa. Jantamos, jogamos alguns jogos, escutamos uma música que ela havia feito. Minha namorada dormiu no sofá. Depois de uma horas, Jéssica dormiu no meu colo.

Na quinta vez, eu havia mudado de cidade. Jéssica foi passar as férias lá e acabamos nos encontrando. Ela ficou hospedada em minha casa durante uns três dias. Nós beijamos uma vez. Mas não lembro de nada sobre isso.

A sexta vez foi quando já estava cansado e estava procurando um novo emprego. Na sala de entrevista, estava entediado. Quando olhei pela janela vi ela passar. Num impeto, saí correndo atrás dela. Mas não a alcancei.

A sétima vez foi em uma casamento. O casamento de um amigo muito querido. Descobri que ela era amiga de infância da noiva.Comemos bolo, bebemos champanhe, deitamos na grama, cantamos karaokê.

Na oitava vez, eu já estava me sentindo velho. Estava com um filho. Ele me perguntou quem era a moça que não parava de sorrir pra mim do outro lado do parque. Tomamos sorvete, jogamos alguns jogos, fomos nadar. Perguntei se ela queria carona pra casa e ela disse que não queria que soubesse onde morava.

Na nona e ultima vez, ela estava bem doente. Quase desmaiou perto de da saída do metro. Levei ela pra sua casa, coloquei na cama, fiz um chá e coloquei uma música, que certa vez ela dissera que era sua favorita. Ela comentou que não era mais. Anoiteceu. Vimos um filme, contei uma história. Ela dormiu como uma criança.

No dia seguinte, voltei a sua casa. Atendeu uma moça morena em roupas azuis. Ela disse que Jessica havia saído cedo aquela manhã e não sabia que horas ia voltar. Só que ela não voltou mais.

Nunca mais soube nada dela. Tenho sua foto até hoje.

Tentativa em inglês (1)

I was so stunned,
by this wonderful place.
More than you for sure.
I had a heartache.

Talking about it
makes me feel so blue.
And I wonder everyday
how it's for you.

Oh, I've forgotten to listen to you!
Oh, I want to hug, squeeze, make it true!

The sun was setting
and the expectation are low.
I don't think
I was even allowed.

Thinking 'bout
what went wrong.
You don give a fuck,
but my feeling is strong.

Oh, I've forgotten to listen to you!
Oh, I want to hug, squeeze, make it true!




sexta-feira, março 22

volta pra tua dona

Hoje não tem papo!
Hoje tem sopapo!
Hoje eu garanto esse estrago.

Hoje não tem cama!
Hoje tem má fama!
Hoje eu pego esse ingrato.

Mas que destrato.
Você foi mal informado.

Volta daqui uns meses e fala pra tua nega que a culpa não é minha.
Explica pra ela que você é quem  veio arrastar a asinha.

"Deita no meu penacho.
Rebolo, hoje eu não sai por baixo."

quinta-feira, março 21

Você virou só por um segundo
Não me diga que não percebeu
pra onde é que eu tanto olho.

Você pode acreditar que não é mentira.
Não faça me arrepender de ter dito a poesia.

Ei, eu só quero manter as coisas altas,
tão altas como devem ser!
Ei, eu só quero você aqui embaixo,
e saber como deve ser!

Você não sabe a crueldade que é
me manter nessa ansiedade.
Não que eu não queira provar
de toda essa tua vontade.

Você pode acreditar que é verdade.
Não me faça arrepender de usar sinceridade.


Ei, eu só quero manter as coisas altas,
tão altas como devem ser!
Ei, eu só quero você aqui embaixo,
e saber como deve ser!

Não me diga que o problema é essa baita dúvida.
Como quem fica atras da porta, esperando pela vida.

Você não sabe como é
ruim viver selado sem saber.
Sem poder colher o fruto de um apelo,
ter sede e não poder beber.


Ei, eu só quero manter as coisas altas,
tão altas como devem ser!
Ei, eu só quero você aqui embaixo,
e saber como deve ser!


Ei, eu só quero manter as coisas altas,
tão altas como poderiam ser!
Ei, eu só quero você aqui embaixo,
e saber como devia ser!