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quarta-feira, abril 3

Memórias (1)


A primeira vez que encontrei Jessica era madrugada de Junho e, como sempre, fazia muito frio. Voltava pra casa quando encontrei a menina ruiva agasalhada atravessando a rua apressada. Por um momento, nossos olhares se encararam. Sem dizer nada, abri a porta do meu apartamento e subi as escadas, pensando que acabara de encontrar a menina mais linda que já havia visto.

A segunda vez, eu estava num bar com uns amigos quando percebi que já havia visto a garota da mesa ao lado. E quando ela olhou pra mim, acho que me reconheceu também. Nós ficamos trocando alguns olhares durante a noite. No fim de muitas doses de tequila, ela me disse um tchau quando estava pagando a conta.

A terceira vez que vi a garota foi após alguns meses, quando fui a um festival com alguns amigos. Vi Jessica com alguns amigos também. Mas, tímidos, nem um nem outro resolveu puxar conversa. Bom, não sei se ao menos ela cogitava isso, mas eu fiquei pensando um bom tempo em como aborda-lá. Até que uma mão delicada tocou meu ombro e o sorriso de Jessica me convidava pra ir pra outro lugar. Bebemos tequila na beira do rio. Conversarmos, demos risadas e dançamos. Depois, eu caí de sono. Quando acordei encontrei só uma foto dela embaixo da garrafa vazia de vinho.

Na quarta vez que vi Jéssica, muitos anos já haviam passado. Eu estava com uma namorada, em um parque da cidade. Ela me parou e conversou conosco. Depois convidou para um jantar em sua casa. Jantamos, jogamos alguns jogos, escutamos uma música que ela havia feito. Minha namorada dormiu no sofá. Depois de uma horas, Jéssica dormiu no meu colo.

Na quinta vez, eu havia mudado de cidade. Jéssica foi passar as férias lá e acabamos nos encontrando. Ela ficou hospedada em minha casa durante uns três dias. Nós beijamos uma vez. Mas não lembro de nada sobre isso.

A sexta vez foi quando já estava cansado e estava procurando um novo emprego. Na sala de entrevista, estava entediado. Quando olhei pela janela vi ela passar. Num impeto, saí correndo atrás dela. Mas não a alcancei.

A sétima vez foi em uma casamento. O casamento de um amigo muito querido. Descobri que ela era amiga de infância da noiva.Comemos bolo, bebemos champanhe, deitamos na grama, cantamos karaokê.

Na oitava vez, eu já estava me sentindo velho. Estava com um filho. Ele me perguntou quem era a moça que não parava de sorrir pra mim do outro lado do parque. Tomamos sorvete, jogamos alguns jogos, fomos nadar. Perguntei se ela queria carona pra casa e ela disse que não queria que soubesse onde morava.

Na nona e ultima vez, ela estava bem doente. Quase desmaiou perto de da saída do metro. Levei ela pra sua casa, coloquei na cama, fiz um chá e coloquei uma música, que certa vez ela dissera que era sua favorita. Ela comentou que não era mais. Anoiteceu. Vimos um filme, contei uma história. Ela dormiu como uma criança.

No dia seguinte, voltei a sua casa. Atendeu uma moça morena em roupas azuis. Ela disse que Jessica havia saído cedo aquela manhã e não sabia que horas ia voltar. Só que ela não voltou mais.

Nunca mais soube nada dela. Tenho sua foto até hoje.

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